22.7.06

 

Os Alinhamentos Antigos

A última crise no Médio-Oriente, com a dura resposta retaliatória de Israel às acções de guerrilha do Hezzbolaha, permitiu mais uma vez comprovar a lógica dos alinhamentos políticos do tempo da Guerra-Fria.

De novo se fizeram notar as opiniões antecipadamente formadas segundo as simpatias ideológicas, com destaque para as de uma certa Esquerda, que teima em não aprender com o passado.

Esse alinhamento cego, esse espantoso exercício de maniqueísmo político, ainda que na boca dos que se pretendem da Esquerda moderna, é uma das velhas pechas de toda a Esquerda, não só da antiga, da estalinista, mas também da moderna.

Em grande parte, tal fenómeno acontece porque, afinal, os velhos hábitos custam a desaparecer, como bem no-lo recorda um célebre provérbio inglês : old habits die hard – de resto, traduzindo um sentimento que se poderia dizer geral, planetário, mesmo sem ir averiguar a sua presença na cultura dos povos da Terra inteira.

Uma parte ainda muito significativa da Esquerda permanece amarrada ao conceito de opinião solidária, em que, em vez do respeito da verdade, num qualquer assunto particular, o que nela prevalece é o sentido político do mesmo, que, natural e displicentemente, relativiza a verdade.

Durante muitos e bons anos uma imensa coorte de intelectuais, sobretudo parisienses, da rive gauche do Sena, mas com adeptos em todo o mundo, praticou sem pestanejar este execrável critério, que os cegava completamente ante a realidade.

Sartre, um dos príncipes deste sinuoso pensamento, que contorna a verdade para permanecer fiel a uma orientação política, sempre que tal lhe pareça conveniente, foi um dos seus mais emblemáticos cultores, não admirando, por isso, as loas com que tenha saudado a dita Revolução Cultural chinesa, as práticas de censura e de repressão cubanas e outras lindezas do género, que hoje nos deveriam fazer a todos carpir de vergonha e de mágoa, pelos menos àqueles que, numa adolescência romântica, ingénua e, acima de tudo, ignorante acreditaram nalgumas destas reputadas figuras intelectuais.

A esses, ainda lhes restam a desculpa da idade, a natural imaturidade, o facto de viverem então sob um clima de repressão política e também cultural, que agravava a sua compreensível falta de conhecimento e de experiência de vida.

Mas que dizer daquela plêiade de intelectuais, homens maduros, cultos par excelence, usufruindo de todas as liberdades, ali naquele viveiro de ideias, de teorias e de doutrinas, à beira da vetusta e elegante Sobornne ? Como explicar tamanho desacerto de toda essa gente ?

A Sartre, nenhuma das suas incoerentes atitudes políticas jamais lhe prejudicou o imenso prestígio de grande intelectual, de que sempre gozou até ao fim da vida, como símbolo maior do intelectual engagé, escutado e festejado pelos quatro cantos do Planeta.

Ainda o vimos a visitar a nossa realidade revolucionária de 74-75, algo céptico quanto aos caminhos que ela então trilhava, talvez por ela não se lhe apresentar dirigida por uma vanguarda de exaltados guardas chineses, mas por militares recentemente convertidos aos rigores da doutrina revolucionária.

Alguns entre nós, hoje ainda, são herdeiros desta fenomenal cegueira política, que sempre os puxa para as atitudes mais absurdas, que os leva a desculpar o mal, desde que praticado pelos supostos irmãos em ideologia.

Reconhecer isto, não significa passar um atestado de bom comportamento à nossa Direita tradicional, cuja longa conivência com a falta de Democracia, no regime de Salazar-Caetano, claramente não democrático, lhe reduz a autoridade para denunciar com coerência estas práticas da Esquerda acima descritas.

Ainda hoje não temos uma Direita inequivocamente democrática, oscilando entre um populismo, mais ou menos trauliteiro e um conservadorismo envergonhado.

Depois, das desistências de Adriano Moreira, de Freitas do Amaral e de Lucas Pires e do desaparecimento do malogrado Adelino Amaro da Costa, não surgiu ainda um líder credível, capaz de orientar o CDS no sentido político de uma Direita convictamente democrática.

A liderança de Paulo Portas, que chegou a ter algum êxito eleitoral, acabou por trazer ao CDS uma mudança de rumo que desvirtuou a sua cultura política tradicional.

O súbito apagamento de Paulo Portas acentuou a oscilação política do CDS, quanto à sua definição ideológica, com a sua mera gravitação em torno do núcleo doutrinário neo-liberal, o que não adianta grande coisa, porque, hoje, até o PS já lá navega mar dentro.

O centro político PS-PSD, que tem dominado a cena política nos últimos trinta anos, apresenta-se esgotado, desacreditado pela fraca qualidade dos seus conhecidos intervenientes, quer de um ponto de vista técnico, quer de um ponto de vista ético, tendo, em conjunto, gerado a situação degradada em que nos encontramos.

Esta área política necessita de urgente revitalização, que deveria passar pela sua refundação completa, de raiz. Sente-se de forma difusa a sua necessidade, mas falta achar as figuras credíveis, prestigiadas e impolutas que a possam protagonizar.

Terão de se apresentar de mãos limpas, sem mácula ou compromisso, político ou moral, com a actual degradação, para lograrem a indispensável confiança da restante Comunidade Nacional, hoje, desorientada, atónita e já muito céptica, após as sucessivas decepções acumuladas nos últimos trinta anos.

Ainda não se percebeu bem em que sentido a Política portuguesa vai evoluir nos próximos tempos, mas certamente que o presente estado de indefinição ideológica, com o consequente apodrecimento de toda a vida política não há-de durar eternamente.

A situação começa a ficar madura para acolher alternativas políticas. Tudo depende da ousadia de uns quantos e da força moral que consigam despertar e agregar pelo País fora.

Se houver vontade em reunir gente de carácter, competente nos seus misteres, disposta a bater-se por ideais, com sentido de missão, pode haver esperança para Portugal.

Se esta vontade não surgir, não se vê como o País há-de melhorar.

AV_Lisboa, 22 de Julho de 2006

18.7.06

 

O Controverso Mibel

Para ilustrar a falta de atenção com que um tema deveras importante para a nossa vida nacional, como o do festejado Mercado Ibérico de Electricidade - Mibel - tem sido tratado pela Comunicação Social e, quando acaso o tem sido, tem-no sido de uma forma quase sempre canhestra ou mesmo errada, volto a colocar aqui alguns pequenos textos que, há cerca de três anos, escrevi, noutro âmbito e para outras instâncias, sobre ele ou sobre outros assuntos com ele correlatos.

Inseriam-se, esses artigos, numa tentativa conjunta de algumas pessoas que alertavam para certos perigos e confusões que reinavam, já então, em torno da ideia da criação de um Mercado Ibérico de Electricidade, sobretudo em determinados espíritos, naturalmente deficitários de conhecimento em tão crítica matéria, mas sem que daí retirassem as devidas consequências.

Tenho para mim a humana ideia de que ninguém sabe de tudo, ainda que o queira, ainda que possua uma mente privilegiada por Deus, para alguns, para outros, pelo Acaso da Fortuna. Daí que os humanos, em melhores dias, tenham descoberto as vantagens da cooperação de todos para o bem comum, princípio básico, mas com frequência esquecido, de quem sempre o deveria lembrar.

A ideia de criar este Mercado surgiu, aí por 2001, ainda no tempo do facundo António Guterres, por sinal, Engenheiro Electrotécnico de formação, aluno brilhante do nobre IST, mas infelizmente pouco praticante na matéria, que terá abraçado a ideia, porventura com a mesma solidez com que nos inculcava a utilização da Internet e das novas tecnologias, quando, afinal, para estupefacção geral, numa célebre entrevista na RTP, viria a revelar nem sequer conhecer o símbolo @ - a dita arrobinha –, sinal de localização, no então novo mundo da Internet, assim como revelaria ainda não usar, na altura, nenhum computador, nem para escrever uma simples carta, coisa que as suas Secretárias já fariam rotineiramente.

Suspeita-se que a ideia do famigerado Mibel tenha aparecido como forma de ultrapassar a teimosia espanhola em «autorizar» a EDP a assumir direitos de Administração na Hidro-Cantábrico, Empresa que, entretanto, a EDP havia adquirido em Bolsa, em condição absolutamente normal, obviamente legal.

Como muito bem nos aconselhavam os nossos heróicos antepassados, com estes nuestros hermanos, todo o cuidado é pouco, para não sairmos rapidamente ludibriados, a perder, nos tabuleiros em que, eventualmente, com eles, estivermos a jogar.

Para a criação de um tal Mercado, havia naturalmente muitos problemas prévios a resolver, alguns de ordem física, outros de natureza legislativa, outros de natureza comercial, outros de pura concepção, de arquitectura formal. A compreensível complexidade da tarefa deveria ter recomendado a máxima prudência na acção, sobretudo nos compromissos a assumir por Portugal, a parte mais fraca e com razões sobejas para desconfiar da transparência das intenções do parceiro.

As normais cautelas mandavam também não avançar logo com datas da sua concretização, ainda menos anunciando publicamente sucessivos adiamentos.

Tudo isto foi, no entanto, acontecendo perante o espanto de uns e o consequente descrédito de outros, justamente os que, em negociações especializadas ou nas cimeiras ibéricas consecutivas, iam alegremente anunciando para o dia seguinte a concretização do dito Mercado, com a promessa garantida de preços das tarifas de energia eléctrica mais baixos para o consumidor, que só deveria esperar significativas melhorias do Processo : melhor qualidade de serviço, nos aspectos técnicos e comerciais e, principalmente, tarifas mais económicas.

Com tanta maravilha anunciada, muita gente aderiu à ideia, normalmente, com o entusiasmo inversamente proporcional ao seu específico conhecimento do assunto. As poucas vozes que, na altura, levantaram objecções ou apenas exprimiram dúvidas, recomendando simples prudência, foram rapidamente ignoradas, desvalorizadas ou mesmo silenciadas.

E logo se assistiu a um desfilar de novéis especialistas, recém-elevados a essa condição, alguns dos tais que nem distinguem as unidades de Potência das de Energia, meras trivialidades, hão-de arguir, de quem quer complicar a conversa, procurando com «a Árvore encobrir a Floresta».

Assim, de confusão em confusão, fomo-nos enredando em compromissos e cedências com Espanha, cujas empresas do ramo, muito ligeiras e lépidas, logo trataram de se instalar em Portugal, angariando clientes importantes da EDP, aliciados na base de tarifas mais baixas fixadas, não pelo Regulador espanhol, muito menos pelo português, mas tão simplesmente pelo simpático Governo de Espanha, o qual mantém, ainda hoje, essa majestática prerrogativa, estabelecendo modalidades tarifárias, que, mesmo assim, admitem múltiplas condições de excepção para, alegadamente, defenderem certas indústrias suas, como as Cimenteiras, as Químicas, as Siderúrgicas, etc., etc., tudo isto constituindo um enorme saco escuro, dentro do qual vão manipulando, a seu bel-prazer, as tarifas «normais», já de si objecto de fabricação governamental.

Foi com base nesta abstrusa discrepância normativa altamente favorável que as Empresas espanholas puderam angariar clientes em território português.

Alguém, em seu perfeito juízo, imagina que tal possibilidade seria oferecida às Empresas congéneres portuguesas, na situação inversa, isto é, a permissão de angariar clientes industriais em Espanha, com base em tarifas ajustadas pelo Governo português ?

A este propósito, lembremo-nos tão-só do que sucedeu com a assunção de direitos plenos de Administração da EDP na Hidro-Cantábrico, com a sistemática obstrução do Governo de Espanha, durante cerca de três anos, sob a alegação de que a EDP era uma Empresa com elevada percentagem de capital estatal português, facto impeditivo, para o efeito, por Lei espanhola, feita expressamente para proteger as Empresas deste País de caírem em mãos estrangeiras, independentemente das aberturas do Mercado e das normas de liberalização económica decretadas por Bruxelas.

Com base nessas mesmas normas, todavia, a mesma Espanha havia já adquirido diversas e importantes empresas, por ex., em Portugal, sem falar da sua entrada leonina no nosso sector bancário, onde rapidamente conquistou um quota que não tem paralelo na situação de vizinhança entre outros Estados europeus.

Todos estes factos são do conhecimento comum de quem dedica alguma atenção à vida económica, política e cultural do nosso País.

Alguns jornalistas, poucos, sublinhe-se, têm-nos relatado, com rigor e perspicácia, múltiplos factos de intervenção económica espanhola interesseira, ainda que se inibam, em regra, de revelar pontos de vista assumidamente patrióticos, ao contrário do que se verifica em Espanha, haja em vista a forma como quase toda a imprensa espanhola cobriu a operação de aquisição do grupo financeiro de Champalimaud, por parte do Santander.

Na sua abusiva linguagem, a Imprensa do país vizinho chegava a referir-se a Portugal como se de uma Região Autónoma espanhola se tratasse e não de um País soberano e independente, com séculos dessa condição conquistada – e não concedida – a essa mesma Espanha, que hoje se nos apresenta animada de propósitos porventura mais cooperantes e amistosos, mas não isentos de uma pouco discreta ambição hegemónica.

Em situação democrática, praticando regras comummente assumidas, aceita-se a ambição de hegemonia, mas só no escrupuloso respeito dessas mesmas regras, sem um propósito escondido de má-fé, de quem apenas pretende tirar vantagens de acordos assinalados, rejeitando ou derrogando as ditas regras sempre que tal lhe convenha.

É bom recordar certas banalidades de base, mesmo com o risco de incorrerr em alguma redundância, para compensar a leviandade que vemos andar por aí à solta, até em sítios onde tal nunca se esperaria encontrar, como nas chancelarias do Estado Português, nas Instituições e demais representações da nossa soberania, ainda não completamente anulada pela nossa entrada numa instância política e económica extra-nacional, como é a União Europeia.

Nela entrámos, é certo, voluntariamente, por pedido expresso pelos nossos responsáveis políticos com legitimidade para o fazer, concedamos, mas a que faltou a correspondente ratificação nacional, a qual deveria ter sido assegurada por meio de referendo, para assunção colectiva plena de tão magna decisão, com repercussões futuras importantíssimas na vida da Nação.

Nunca nada é dado por certo ou definitivo no devir histórico em que nos inserimos e do qual apenas participamos numa sua pequena janela. O processo controverso da Globalização está longe de se poder considerar globalmente vantajoso para todas as Nações, em particular para as mais pequenas, menos apetrechadas a baterem-se com êxito no plano económico.

O sentido deste processo ainda não o percebemos bem, mas as suas nefastas consequências fazem-se já sentir nos países mais pequenos, que, entretanto, se abriram demasiado, se desprotegeram e perderam a sua antiga estruturação económica, menos evoluída mas indubitavelmenter mais articulada, mais consentânea com o arquétipo de Estado independente e soberano a que estávamos afeiçoados.

É cedo ainda para balanços, mas os perigos são imensos, o caminho estreito e pedregoso, exigindo dos responsáveis, nos Governos e nas Instituições, forte vontade, clara competência e insuspeitada probidade no exercício de funções, sem descurar um inequívoco sentimento patriótico a orientar a sua acção.

Pelo que temos visto, escasseiam os motivos para optimismo e sobram os que acentuam a nossa já tradicional tendência para a auto-comiseração, para o pessimismo lamuriento, pecha secular que nos tem dificultado a afirmação colectiva nos tempos modernos.


AV_Lisboa, 18 de Julho de 2005



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Artigos já publicados :

Reedito, por conseguinte, abaixo, com ligeiríssimas modificações, 3 pequenos textos que em 2003 escrevi sobre o Mibel e assuntos correlatos, na perspectiva de reavivar um necessário debate, que em tempo oportuno não chegou a haver, com as funestas consequências que agora se percebem melhor :

« MIBEL : Oportuna Reflexão

O artigo recentemente publicado no Diário de Notícias pelo Prof. João Santana, nosso velho conhecido do IST e pessoa com alta responsabilidade no Sector Eléctrico Nacional, dado que ocupa actualmente um lugar de destaque na Administração da ERSE, merece, pelo tema e pela oportunidade, que lhe seja dispensada atenção especial, com vista à discussão que urge desencadear sobre um ponto importante do futuro do nosso Sector Energético.

Trata-se, no caso de João Santana, de pessoa conhecedora e autorizada no meio para tomar posição em assuntos da energia eléctrica, gozando à partida de aceitação e credibilidade naturais.
Sabemos como estas condições favoráveis ajudam a afirmar certas ideias ou pontos de vista, que, de outra forma, se revelam muito difíceis de inculcar.

Um dos pontos interessantes deste seu artigo vem relembrar a questão da garantia do fornecimento de energia eléctrica, que, para os mais optimistas, seria caso a priori resolvido, dada a «infinita extensão» das redes, ultimamente degradadas em fios, que se estendem por toda a parte, no caso vertente, desde a «ocidental praia lusitana» até aos confins da Europa, pelo menos, até aos Urais, se a Rússia não estiver interligada com a China.

Pelo meio, no entanto, há uns quantos caturras que insistem em falar de estrangulamentos provocados pela diminuta capacidade de transporte das interligações entre as outrora redes nacionais, dificultando, assim, as transferências de potência disponível de uns sítios, dela abundantes, para outros, dela carecidos ou deficitários.

Por esta terrivelmente simples razão, há muitos anos que nós outros, Portugueses, não podemos beneficiar em pleno da energia barata que a França estaria em condições de fornecer em quantidades generosas.

Já agora, caberia inquirir por que diabo a França dispõe de uma situação tão folgada, em matéria de energia eléctrica, ao ponto de alguns a designarem como verdadeira «vaca leiteira eléctrica» da Europa.

Será que os electrões se entendem melhor no idioma francês, ao contrário do que a maioria das gentes supõe, atribuindo ao inglês a especial vocação de lingua franca, para geral uso planetário, da idade pós-moderna ?

Deixemos a pergunta como exercício reflexivo apropriado a este tema.

Como já aqui neste fórum se tem lido, em diversas contribuições, a tão propalada benfazeja liberalização/desregulação do sector eléctrico começa a causar alguns amargos de boca a muito boa gente, incluindo aqueles que, inicialmente, lhe haviam facultado o benefício da dúvida.

Mas a madre experiência, sempre ela, acaba por apurar a razão e desde, pelo menos, há 4 anos, que os sinais de alarme não param de soar.

Desde a opulenta Califórnia, onde supostamente abunda a nata da Gestão, que exporta saber para todo o Mundo, que com ela faz «benchmarking» ou, se preferirem, em vernáculo, emulação competitiva, até aos normalmente prudentes, frios e racionais nórdicos, passando pelos engenhosos e práticos britânicos e pelos imaginosos e criativos italianos, todos eles já passaram por desagradáveis surpresas, vendo-se subitamente às escuras, por motivos triviais, que estão connosco desde os primórdios das redes.

A propósito destes momentosos casos, acrescento também, a seguir, como sugestão de discussão, um outro apontamento meu suscitado pelo apagão italiano.

Parece que ninguém, a seu tempo, curou dos aspectos físicos, técnicos, científicos, que, teimosamente, resistem aos excessos das fantasias dos Gurus da Gestão, que, frequentemente, vendem gato por lebre, no afã de produzirem brilharetes, em pouco tempo, com grandes resultados financeiros, outras vezes nem isso, ainda que venham a comprometer seriamente o futuro das Empresas em que temporariamente imperam, o qual, desgraçadamente, nessas Empresas, já não se fará com eles.

Entretanto, estas presumidas sumidades, ficam ricas e mudam de ramo.

Lembremo-nos também que o fornecimento de energia eléctrico nunca será um mero negócio, como outro qualquer, visto que ele comporta uma vertente de serviço público manifesto, de suporte social generalizado, sem a qual vertente quase nenhum outro negócio pode sequer sustentar-se.

Contabilizem-se com rigor e avaliem-se na sua completa dimensão os custos directos e indirectos dos apagões e dos cortes eléctricos forçados e veja-se se compensa alguma economia criada em momentos de inconsiderada confiança.

Dê-se o devido relevo ao factor segurança na condução e exploração das redes, planeie-se com recursos próprios, de preferência, ou com alheios, sob o nosso controlo, o crescimento do parque de centrais, de modo a não se cair em situações de défice de geração perigoso, como aconteceu com a Califórnia e com a Itália.

Apoie-se e reforce-se o conhecimento técnico existente no domínio da energia, das correntes fortes e da análise de redes em geral, se não se quiser amanhã passar por situações lamentáveis de desorganização e retrocesso social.

Atente-se nos casos dos apagões americano e londrino de Agosto passado, de onde não estão ausentes graves deficiências técnicas. Não se empole o papel da gestão, em detrimento do da engenharia, porque é no equilíbrio dos dois saberes que reside o progresso.

Por último, pondere-se bem que, sem engenharia, não há sequer onde exercer a gestão.

Para além das considerações gerais aqui exaradas, convém meditar, enquanto é tempo, nas verdadeiras vantagens que tiraremos de um Mercado Ibérico de Electricidade, sobretudo quando nele nos querem fazer entrar a toda a brida, como se ali nos esperasse o Eldorado da Energia.

Não é nada prudente trocar o certo pelo incerto, num ambiente de euforia não pensante.
Os cenários que se desenham com franco optimismo são de grande complexidade, neles existindo demasiadas variáveis que rapidamente deixaremos de controlar e de onde pode não haver regresso saudável.

Finalmente, acresce que, com os nossos amigos espanhóis, todo o cuidado é pouco. Falam-nos à consciência vários séculos de história, com algum passivo averbado, como também se lembrou aqui a propósito do contencioso de Olivença, cujo desrespeito pela verdade e pela justiça, da parte dos nossos putativos irmãos, constitui um autêntico espinho cravado na consciência histórica de qualquer português que não esqueça o seu património.

AV, Lisboa, 29 de Outubro de 2003

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APAGÕES ELÉCTRICOS

O recente apagão italiano, de final do mês passado, depois da surpresa do americano, do londrino e do nórdico, no espaço de um mês, começa a inquietar-nos e a levantar-nos muitas reservas ao bem fundado das profundas reestruturações ocorridas no sector da energia na última década.

Como é possível que na madrugada de Domingo, em pleno período de vazio do diagrama de cargas, tenha todo um país da UE, bastante desenvolvido, ficado às escuras – mais de 50 milhões de pessoas sem energia eléctrica – por causa de um disparo de uma linha de interligação da Itália com a Suíça, seguida da perda de outra, vinte minutos depois.

Já o apagão americano nos deixara boquiabertos e também começou com um simples disparo de uma linha de interligação entre redes de estados contíguos, coisas quase dos primórdios das redes : uma linha que dispara, outra que não suporta a sobrecarga e dispara também, e depois outra, e outra, até ao colapso total.

Na Itália foi assim outra vez : um disparo de uma linha junto aos Alpes arrasta consigo uma rede inteira de um país altamente industrializado da UE. Toda a bota italiana até à Sicília, sem energia eléctrica.

Sabe-se agora que existe um défice de produção em Itália, que tem de importar, em permanência, 6000 MW, cerca de 17% da sua capacidade instalada (em condições operacionais) de um parque envelhecido de centrais, num país que, em 1987, decidiu ufanamente prescindir da opção nuclear, mas que não logrou construir centrais hídricas, térmicas clássicas ou outras a um ritmo adequado, compatível com o contínuo crescimento dos consumos, enredado em discussões infindas com os grupos ecologistas e em estudos intermináveis de impacte ambiental.

Vê-se, hoje já, que as generalizadas reestruturações empreendidas no sector eléctrico, ditadas pela pressão da liberalização dos mercados de energia, não trouxeram mais segurança na condução das redes. Ver-se-á também se trarão as prometidas baixas de preços do kWh.

Sem aprofundar o assunto, pode-se desde já formular as seguintes questões :

· A saída de 3000 MW, que era o valor da importação das duas linhas da Suíça, é suficiente para produzir o colapso total da rede de um país desenvolvido da UE ?

· Qual o critério dominante na escolha do esquema de exploração da rede efectuada pelo Gestor do Sistema ?

· Onde está a segurança dessa configuração de rede ?

· Onde está a reserva permanente de produção autóctone ?

· Por que nunca funcionam os diversos escalões dos planos de deslastre de cargas, regularmente aprovados pelos Despachos Nacionais ?

· Por que não funcionam as regulações de frequência e de tensão das centrais do sistema electroprodutor, em combinação com os sistemas de deslastre, para adaptarem a produção existente à nova situação de carga ?

· E o tempo de reposição de serviço, apesar de todos os automatismos, computadores e de toda a informática de apoio, por que é sempre tão elevado ?

· Por que não actuam em coordenação os vários centros de condução e de despacho regionais e nacional para abreviar a normalização do serviço ?

· Se actuam, por que são tão demorados em repor o serviço ?

· Onde estão os estudos, análises, simulações de contingências, etc., que deveriam habilitar os diversos agentes a lidar com maior eficácia com as situações de emergência ?

· Quem avalia, valoriza o factor de segurança na condução/exploração das redes ?

· Como se contabilizam os danos económicos, sociais e outros dos apagões ?

· Que diz o Regulador italiano ? Há excesso ou falta de liberalização no sector ?

· Que confiança nos merecem as «redes infinitas» ?

· E de que vale o excesso de produção de EE num país, sem capacidade de transporte suficiente nas linhas de interligação com outros onde ela escasseia ?

· E quando nem uma coisa nem outra existem ?

· Por que é a França hoje a «vaca leiteira eléctrica» da Europa ?

· Por que compra a EDF empresas de Electricidade na Europa e não abre o seu capital a grupos económicos estrangeiros ?

· Não estará ela subordinada à mesma Directiva da UE que os restantes parceiros ?

· Muitas mais reflexões se podem tecer à roda do tema dos recentes apagões ?

· Quem quererá retirar as devidas ilações ?

Aqui se deixa, então, um conjunto genérico de questões, longe de se pretender exaustivo, à reflexão de todos quantos se interessam por temas de energia e redes eléctricas, na esperança de que se aprenda alguma coisa com os erros alheios.

AV - Lisboa, 1 de Outubro de 2003

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Considerações Sobre «O Apagão Eléctrico» Americano de 14-08-2003

Num período de acentuado pessimismo nacional, como o que actualmente se vive, o recente apagão eléctrico de partes dos EUA e Canadá veio propositadamente demonstrar que, em Portugal, não temos razão para – sistematicamente - nos acabrunharmos com as comparações internacionais, pelo menos no que respeita à prevenção e resposta aos famigerados apagões, já que, no que se refere à iliteracia, os resultados são de facto preocupantes.

Se compararmos, todavia, mesmo que em escala proporcionada, o tempo de reposição de serviço do nosso último grande apagão, ao sul de Rio Maior, de Maio de 2000 : pouco mais de 1 hora, com excepção de alguns – escassos – locais em que chegou às duas horas e picos, com o verificado nos EUA, em que muitas horas depois, nalguns sítios, dias, a normalização dos serviços ainda estava por atingir, a nossa posição relativa não aparece diminuída.

De um modo geral, nos comunicados oficiais americanos, nem aparecem referências precisas ao tempo de reposição de serviço, tal é o escândalo da sua expressão. E, no entanto, aqui entre nós, há três anos, houve chacota geral na nossa Comunicação Social, que aproveitou, mais uma vez, para, de modo leviano, achincalhar a já debilitada auto-estima lusitana, contrapondo-nos irreflectidamente putativos paraísos eléctricos, só existentes na sua delirante imaginação.

À parte os nossos males reais, que nos cumpre quotidianamente combater, não devemos nunca autoflagelar-nos, carpindo a nossa imaginada condição de eternos probrezinhos, fatalmente condenados a fazer pior que os outros em quase tudo. Atentemos no que se passa noutros países, tecnicamente bem mais apetrechados, supostamente, mas onde também ocorrem estas desgraças, de que não se saem melhor.

E não será só da desregulação, porque antes desta já essas calamidades aconteciam, como nos apagões de 1965 e 1977, para evocar só os de maior amplitude. Esperava-se, no entanto, que a introdução de sistemas e automatismos cada vez mais « inteligentes » viesse minorar as consequências destas imprevistas anormalidades e, neste ponto, é que surge a grande decepção.

Nalguns documentos, vindos a público nos EUA, já se fazem apelos à Administração norte-americana para que fomente o interesse dos estudantes pelos cursos de Engenharia de Sistemas de Potência, para que não corram todos para as Telecomunicações, Electrónicas, Informáticas e Computadores, descurando o núcleo central do saber das Empresas de Electricidade, que assenta nas matérias mais clássicas da Electrotecnia : Análise de Redes, Sistemas de Protecção, Controlo de Sistemas de Energia, Estabilidade das Redes, Tecnologia de Materiais, Técnicas de Alta Tensão, etc., etc..., sem neglicenciar, evidentemente, as disciplinas mais modernas.

O que não se deve é inverter as prioridades. Não é preciso ser-se uma Empresa muito grande para que as tarefas típicas da sua actividade principal sejam bem executadas, contanto que haja núcleos de saber especializado, devidamente valorizados, encorajados e progressivamente robustecidos.

A ideia - modernamente prevalecente - de que, nas Empresas, se for preciso ter mais conhecimento nalguma matéria específica, ainda que do seu núcleo principal, se recorre aos especialistas exteriores - outsourcing - das universidades ou das consultoras, a prazo, e se tal se tornar prática comum, conduz ao inexorável empobrecimento das Empresas, ao seu progressivo esvaziamento técnico, ao mero papel de agulheiros/sinaleiros dos fluxos de saber, cada vez com menos capacidade crítica para tomarem as opções mais adequadas.

Outros, chamados consultores ou conselheiros científicos, as tomarão em seu lugar e as apresentarão como neutras ou isentas de interesses espúrios, tirando partido da ingenuidade ou da aparente comodidade dos responsáveis das empresas que requerem esses serviços de inquestionada " expertise ".

Até a dita economia de recursos que esta solução parece conter, porque aparentemente dispensa as empresas de constituir encargos fixos permanentes com a contratação de especialistas, acabará por se tornar ilusória, dado que a sua utilização sistemática, se revelará cada vez mais onerosa, agravando a dependência das Empresas relativamente aos diferentes consultores repetidamente solicitados.

Onde se encontra matéria de interesse particular para nós, é nos comunicados difundidos na Comunicação Social pela National Grid, a propósito do apagão de Londres do fim de Agosto, disponíveis na Internet.

Esse interesse reside na forma como os ingleses lidaram com o caso na Comunicação, demostrando um extremo cuidado informativo, mesmo cirúrgico, na revelação do facto perante o público.

É deveras assinalável a concisão das declarações e a sua preocupação de objectividade, tudo feito com grande economia de meios, num verdadeiro modelo de parcimónia informativa.

É imediatamente perceptível a sua intenção em desfazer ab initio qualquer tipo de analogia com o caso americano. A National Grid aproveitou mesmo o ensejo para enaltecer o esforço bem sucedido dos seus profissionais para limitar a área afectada pelo incidente, não deixando de destacar a «prontidão» da reposição do serviço, relativamente rápida para a potência em jogo, estabelecendo o contraste com o sucedido com o apagão dos EUA.

Debilidades, mais do que evidentes, da rede americana, que, em poucos anos, depois da «surpresa» dos cortes programados de energia eléctrica na Califórnia, volta a dar que falar, pelos mais indesejados motivos.

A simples e velha Electrotecnia das leis de Ohm, Kirchhoof e dos fluxos de potência prevaleceu novamente sobre a rapidez e a precisão dos sistemas informáticos.

Há que retirar as necessárias ilações destes acontecimentos.

AV , Lisboa 15 de Setembro de 2003».


Fim da transcrição dos referidos artigos.

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10.7.06

 

Afirma - pouco - Pacheco

As crónicas de José Pacheco Pereira ( JPP ), no Público, já por várias vezes me mereceram, aqui ou alhures, intervenções diversas com réplicas discordantes, na sua maior parte, ou então lavradas para marcar uma diferente sensibilidade política, de quem se imagina no mesmo ou semelhante enquadramento político.

No caso do PSD, julgo que ninguém, hoje, terá bem a noção do real enquadramento ideológico em que este Partido se situa, pouco dizendo o nome com a coisa ou com a prática de intervenção social conhecida, nos últimos 10 a 15 anos já, tanto quanto podemos identificá-la.

Dadas as características do momento que atravessamos, dir-me-ão alguns que se trata de questão secundária, quase irrelevante, tão descaracterizados vão os tempos quanto a definições ideológicas. Pode ser que tenham os demais razão, mas para quem preza a coerência e a racionalidade torna-se mister conhecer certos referenciais, para saber por que e por quem se tenha de combater.

Os mais pragmáticos hão-de logo atalhar que a definição se apura na luta ou no jogo político-partidário, sem necessidade de se exigir alinhamentos ideológicos antecipados. Se avaliássemos tudo pela prática recente, talvez concordássemos com a ideia.

Há cerca de 15 dias, JPP escreveu aquele artigo sobre a necessidade de existir uma oposição liberal, moderada, em relação à prática do Governo socialista, que, saudavelmente, suscitou alguma polémica, em especial na blogosfera, visto que nos meios de Comunicação Social, em geral, tal se vai tornando raro, se não impossível.

A chamada auto-censura começa a impor-se, por vias sub-reptícias, mas eficazes. A liberdade está consignada na Lei, mas a previdência, a conveniência, inculcam-se já nas consciências e ninguém se mostra disposto a arriscar a sua pequena segurança, com excepção de um reduzido número, cada vez, no entanto, mais reduzido, que, mercê de condições particulares ou por serem os seus membros de constituição moral mais robusta, persistem em afirmar a sua voz, ainda que conscientes da sua escassa ineficácia.

Ainda assim, pelo que pude apurar, contaram-se por cerca de uma dezena as réplicas ao referido artigo de JPP, de 29 de Julho p.p., no Público. Não li, contudo, o conteúdo dessas réplicas para sobre elas me poder pronunciar. Admito que JPP as tenha lido, já que a elas fazia referência, na sua crónica da semana passada, de 03 de Julho, a que deu o título de «No Puede Ser», para contar uma história ocorrida com ele, há anos, numa sua deslocação à Guatemala, a um encontro político internacional, em representação do PSD.

A história ocupa cerca de 2/3 do artigo e serve apenas para ilustrar as diferentes formas de arrumação político-partidária de determinadas nomenclaturas ideológicas, consoante as sociedades em que elas ocorrem.

O essencial ficou, não obstante, fracamente analisado. De modo vago, pouco preciso, JPP afirmou que é por políticas liberais, mais que partidário do liberalismo económico ou do chamado neo-liberalismo, doutrina que parece ter vindo dos EUA, para conquistar certos espíritos europeus, aparentemente cansados de coesão social e assustados com o seu custo, segundo os teóricos americanos, absolutamente incomportável para a competitividade das Empresas e das Economias dos países europeus, ameaçadas, na sua própria sobrevivência, no maravilhoso mundo globalizado, o tal que se nos impõe como uma inelutável fatalidade, mesmo se dele não gostamos ou timoratamente duvidamos da sua bondade.

Todavia, aqui sim, valeria a pena JPP ter perdido algum tempo a explanar a sua posição. Tanta vez ele intervém, a propósito de tanto tema, que me surpreende que nunca tenha suficientemente dilucidado esse largo mar de confusão em que o PSD navega desde há longos anos.

Afinal, porque mantém este partido a designação de formação social-democrática, ainda que apenas de inspiração subliminar, na sua formulação ideológica, se só o vemos bater-se pela agenda neo-liberal, traduzida num limitado léxico, que não vai além de um conjunto de chavões, como a competitividade das Empresas, imaginada à sombra da pressão para reduzir salários, dos outros, que não os dos alegados promotores da dita competitividade, e os dos pequenos, nanja os dos Gestores, que, esses, querem-se ao melhor nível europeu.

Depois, vem a dita rigidez legislativa laboral, sempre arvorada em óbice do investimento, nacional e estrangeiro, pela dificuldade que comporta em despedir e pelo seu excesso de protecção social, que fabricaria trabalhadores acomodados, preguiçosos e inclinados à recalcitração e a todo o género de contestação, em face do compreensivo e generoso mundo empresarial.

A isto, acrescentam ainda, amiúde, a inconveniência ou a obstrução da Constituição da República, igualmente demasiado protectora de liberdades e garantias dos cidadãos, não os predispondo à aceitação da dureza laboral, inexoravelmente caracterizada por baixos salários e escassez de direitos, que, isto sim, constituirá o verdadeiro estímulo à produtividade que falta atingir, vide os exemplos asiáticos, do Leste Europeu e, sobretudo, da China, como agora se tornou de bom tom invocar de modo elogioso.

Sobre estes temas nunca vimos JPP discorrer. Achá-los-á desinteressantes ou despiciendos, por pouco «intelectuais» ? Não sabemos. Mas não deixa de ser curioso que, pertencendo JPP a um Partido que, supostamente, terá mais trabalhadores por conta de outrem que Empresários, nunca a perspectiva daqueles lhe haja merecido atenção.

Nunca vimos, nos anos mais recentes, JPP levantar uma discussão de carácter ideológico no PSD ou sequer suscitar um debate pela maior definição político-programática do Partido, como há muito não o vemos a encabeçar uma lista, um grupo, um movimento, que se proponha redimir o Partido das sucessivas «derivas liberais» que o têm tomado, pelo menos nos últimos três lustros.

Cumprirá, no entanto, dizer, em abono da verdade, que JPP, apesar de tudo, é dos poucos militantes destacados do PSD que ousam exprimir publicamente as suas opiniões políticas, concorde-se ou não com elas. Dos outros, nada transpira para a opinião pública, fora daquele estafado jargão de economês atrás citado.

Não era Antero que se admirava de alguém poder viver sem ideias ? Pois, passados mais de 130 anos, parece que estamos ante a mesma admiração !

Lograremos alguma coisa trazendo estes temas a debate ?

Conseguiremos, com estes pequenos desafios, espicaçar a farta verve política de JPP ?

E o que se passará com os demais militantes da causa da Social-Democracia, cidadãos interessados nos destinos da sua Nação, menos mediáticos, é certo, mas não desprovidos de ideias e de vontade de intervir na sua necessária regeneração ?

Ficarão eternamente calados e passivos, perante o espectáculo de degradação lenta mas progressiva do País a que todos assistimos ?

Estaremos em presença de um paulatino mas inexorável definhamento daquilo que tínhamos como ideia de Portugal ?

Quero crer que não !

AV_Lisboa, 10 de Julho de 2006

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